Ex-deputado foi preso político e desapareceu em janeiro de 1971 após ter sido levado por agentes da Ditadura Militar


Selton Mello interpreta o ex-deputado Rubens Paiva em "Ainda Estou Aqui" • Divulgação/Comissão da Verdade Rubens Paiva da Alesp

Porto Velho, RO - O novo filme do diretor Walter Salles, “Ainda Estou Aqui“, chegou aos cinemas nesta quinta-feira (7). O longa é estrelado pelos atores Fernanda Torres e Selton Mello, além de contar com Fernanda Montenegro no elenco.

“Ainda Estou Aqui”, filme escolhido para tentar uma vaga para representar o Brasil no Oscar 2025, é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva. A obra conta a história de sua própria família, quando seu pai desapareceu após ter sido levado para interrogatório por agentes da Ditadura Militar em 1971 e a luta de sua mãe para conseguir a resposta sobre o paradeiro do marido.

Selton Mello vive Rubens Paiva na adaptação cinematográfica. Para interpretar o ex-deputado, o ator disse que engordou 20 kg. “Foi uma transformação física significativa”, falou durante entrevista coletiva sobre o filme. “Depois, foi difícil perder esses 20 kg, especialmente aos 51 anos, mas tudo bem. O personagem precisava disso para dar essa esse caráter de pai.”

Em entrevista à CNN, Selton Mello ainda disse que teve que representar o personagem “de uma forma marcante o suficiente para reverberar ao longo do filme ajudando a trajetória da personagem da Nanda [Fernanda Torres] e do público, que é cúmplice dessa jornada”.


"Ainda Estou Aqui" é o filme escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025 • Divulgação/Alile Dara Onawale


Estrelado por Fernanda Torres, que interpreta Eunice Paiva, o filme fala sobre a luta dela em busca de respostas após seu marido, Rubens Paiva, ter desaparecido durante a Ditadura Militar • Divulgação/Alile Dara Onawale


Mãe de cinco filhos, Eunice busca respostas sobre o paradeiro do marido • Divulgação/Alile Dara Onawale


Quem foi Rubens Paiva, personagem de Selton Mello em “Ainda Estou Aqui”?

Filho de Aracy Beirodt Paiva e Jaime de Almeida Paiva, Rubens Beirodt Paiva nasceu em 26 de setembro de 1929 em Santos, no litoral de São Paulo.

Formado em engenharia civil pela Universidade Mackenzie, Paiva se tornou deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) pelo estado paulista nas eleições de 1962.

Segundo informações do Memorial da Resistência, Rubens Paiva foi vice-líder do PTB na Câmara dos Deputados e foi cassado logo após o golpe militar de 1964. Ele chegou a ser exilado para o exterior, mas voltou ao Brasil em 1965 e passou a morar com a família no Rio de Janeiro.

Eunice e Rubens Paiva • Reprodução/Instituto Vladimir Herzog

Casado com Eunice Paiva, os dois tiveram cinco filhos: Marcelo Rubens Paiva, Vera Paiva, Maria Eliana Paiva, Ana Lúcia Paiva e Maria Beatriz Paiva.

Na madrugada de 20 de janeiro de 1971, os militares foram até a casa da família e o levaram preso.

De acordo com a Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) – que leva o nome do ex-deputado -, Rubens Paiva foi enviado ai Quartel da 3ª Zona Aérea do Rio de Janeiro, onde sofreu as primeiras torturas na sede comandada pelo brigadeiro João Paulo Moreira Burnier.

Em seguida, o político foi entregue ao DOI. Paiva foi então submetido a interrogatório sob tortura por agentes do DOI e do Centro de Informações do Exér­cito (CIE).

De acordo com os depoimentos e material oficial recolhidos pela Comissão Nacional da Verdade, na madrugada de 21 de janeiro de 1971, Rubens Paiva foi atendido pelo médico do local e foi determinado que estava com quadro de “hemorragia abdominal mediante ruptura hepática”.

“Rubens Beirodt Paiva é considerado desaparecido político, por não ter sido entregue os restos mortais aos seus familiares, não permitindo o seu sepultamento até os dias de hoje”, conforme consta no relatório da CNV.

Em um depoimentos à CNV, um dos ouvidos relatou ter visto o agente Antônio Fernando Hughes de Carvalho como sendo o responsável pela tortura “de forma extremamente violenta e que pode ter sido a causa principal da morte do ex-deputado”. O depoimento em questão foi realizado em fevereiro de 2014 – ano em que a família Paiva finalmente teve uma resposta concreta sobre o que ocorreu com Rubens Paiva.

A certidão de morte do ex-deputado foi apenas emitida em 1996, após pressão feita por Eunice Paiva – que se dedicou a lutar pelo direito das famílias dos desaparecidos durante a Ditadura Militar.

A história de Rubens Paiva e Eunice Paiva é contada no filme, que estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (7).

Assista ao trailer de “Ainda Estou Aqui”:

 


Veja também – “Ainda Estou Aqui” pode concorrer ao Oscar

 

Fonte: CNN Brasil