Porto Velho, RO - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira (28) que a tentativa de melhorar a situação das contas públicas por meio do aumento de receitas e não pelo corte de despesas é menos eficiente e resulta em mais inflação e menos crescimento.
A ideia de aumentar a arrecadação para atingir o superávit fiscal é um dos fios condutores da política econômica do ministro da Fazenda Fernando Haddad.
“Ajustes feitos pelo lado da receita geralmente são menos eficientes e resultam em mais inflação e menos crescimento. Em mercados emergentes também tem menos influência sobre ajustes em prêmios de risco. Ou seja, quando o ajuste é feito pelo lado da receita não tem o mesmo impacto em prêmio de risco do que pela despesa”, disse o presidente do BC durante painel no Fórum de Lisboa, evento organizado pelo IDP, a faculdade de Direito fundada por Gilmar Mendes.
Durante a participação no painel “Integração global e blocos econômicos”, o presidente do BC não citou em nenhum momento as recentes críticas feitas pelo presidente Lula.
Mas em boa parte do discurso Campos Neto defendeu medidas econômicas que batem de frente com as políticas adotadas pelo governo Lula.
Campos Neto, que faz aniversário nesta sexta-feira, saiu às pressas do fórum.
Na saída, a CNN perguntou se as críticas feitas no painel eram dirigidas ao governo, mas o presidente do BC disse que estava falando apenas do cenário internacional.
Campos Neto afirmou que os governos e Bancos Centrais devem atuar juntos na busca pelo fortalecimento dos fundamentos macroeconômicos e criticou o intervencionismo estatal.
“O governo deve sempre atuar como facilitador do investimento privado, valorizando o livre mercado. Intervenções públicas exageradas sobre a economia geram distorções, ineficiência na alocação de recursos e menor crescimento”, disse.
O presidente do BC defendeu que embora o aumento de gastos do governo tenha benefícios iniciais, os custos a serem pagos a longo prazo são altos e impactam negativamente o crescimento.
Ele acrescentou ainda que o aumento do crédito subsidiado provocam elevação da taxa neutra de juros.
Campos Nesto também criticou a permanência dos programas de transferência de renda criados durante a pandemia, que segundo ele, deveriam ser temporários.
Ele citou a tese de um ex-ministro da Economia francês, que diz que os programas de transferência devem respeitar os três “Ts” (“temporary, targeted, taylored” em inglês), em tradução, temporário, focado e sob medida.
“O que a gente vê, passados anos da pandemia, é que esses três ‘Ts’ foram difíceis de se realizar. Começando pelo temporário, que ficou permanente. Também é muito difícil fazer uma coisa focada e sob medida. E ter respeito a essa regra quando se precisa recorrer a programas de transferência é importante.”
No fim do discurso, Campos Neto falou sobre o impacto negativo do aumento de gastos públicos sobre as expectativas, que, segundo ele, são cada vez mais importantes para a formação de preços.
“Quando a gente aumenta os gastos públicos, há uma percepção de mais risco sobre a sustentabilidade da dívida. O governo precisa pagar juros cada vez maiores e para tornar essa dívida atrativa, há um aumento do prêmio de risco que leva ao aumento de juros futuros”, afirmou. “A desconfiança sobre as contas públicas leva também a uma desancoragem e ela se faz presente na taxa de juros e na expectativa de inflação”, completou.
O presidente do BC defendeu que as expectativas sobre inflação influenciam a tomada de decisão de empresas e famílias sobre poupança e investimentos e também os preços praticados em negociações no mercado. “Quando a previsão de inflação futura sobe, há um impacto sobre preços e economia no regime de metas de inflação. Por isso, a importância da ancoragem da expectativa de inflação para tornar o ambiente econômico mais estável, previsível e atrativo para os investidores”, disse.
Fonte: CNN Brasil
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