Daniela Santa Justus escolheu o nome em homenagem a uma amiga que faleceu e a mãe biológica. Ela é acompanhada pelo Centro de Referência Especializado para Pessoa em Situação de Rua “Centro Pop Dom Moacyr Grechi”.
porto Velho, RO - Aos 26 anos, Daniela Santa Justus conseguiu o reconhecimento oficial da pessoa que sempre foi. Ela, que é mulher trans e vive em situação de rua, conseguiu retificar nome e sobrenome na certidão de nascimento.
“Eu falo pra todo mundo que não pode se esconder, tem que ser como a pessoa é. Ninguém tem a ver com a vida dos outros. Então eu pensei: vou revelar de verdade quem eu sou”, contou ao g1.
A retificação aconteceu durante a “2ª Semana Nacional do Registro Civil: Registre-se!” uma operação da Justiça Rápida Itinerante do Tribunal de Justiça de Rondônia (TJ-RO) realizada de 13 a 17 de maio.
Todo o processo de amadurecimento da ideia e os primeiros passos para o processo de retificação foram acompanhados pelo Centro de Referência Especializado para Pessoa em Situação de Rua “Centro Pop Dom Moacyr Grechi”.
Quem é Daniela?
“Isso tem que ficar claro: a Dani não nasceu naquele momento, na terça-feira, a Dani sempre existiu. Naquele momento ela foi reconhecida oficialmente”, ressalta Giovany Lima, psicólogo da equipe técnica do Centro Pop.
Aos 20 anos conheceu a mãe biológica e conviveu com ela por um tempo, antes da mulher falecer. Foi um período feliz, mas depois da morte da mãe, a família se afastou e Dani acabou voltando para as ruas. O nome que ela escolheu para si é, em parte, homenagem para a mãe biológica.
“Eu botei esse nome porque Daniela é de uma amiga que faleceu e Santa é o nome da minha mãe de sangue e justus é o sobrenome da minha biológica”, revelou.
Um corpo com marcadores sociais
“As violências sofridas pela Dani por ser mulher trans e em situação de rua são inimagináveis. Ela sofreu muitas violações de direito. Ela está no topo das minorias que sofrem violações de direito. A Dani é uma mulher negra, trans e em situação de rua”, ressalta o psicólogo Giovany Lima.
“Aqui [no Centro Pop] foi onde eu me reencontrei. Foi aqui que eu encontrei minha família”, contou.
Daniela Santa Justus — Foto: Jaíne Quele Cruz/g1
Esse processo foi fundamental para tornar possível a retificação. Quando a equipe do Centro Pop pôde perceber a certeza e o entusiasmo de Daniela em ter seu nome reconhecido, eles ajudaram ela no processo.
“Imagina se as pessoas não aceitassem te chamar pelo seu nome, não aceitassem seu gênero? A Dani passou por isso a vida inteira. Imagina pra ela como é, pra um resgate de autoestima, saber que a pessoa que ela sempre foi agora é reconhecida pelas outras pessoas”, comenta o psicólogo.
Segundo Giovany, os próximos passos são conseguir a retificação dos outros documentos pessoais e lutar para que a Daniela consiga uma independência financeira para planejar a vida. E ela sonha grande:
“Eu quero fazer Direito. Imagina se eu fosse juíza!”.
A retificação do nome e sobrenome não é só uma realização pessoal para Daniela, é uma facilitadora de acesso a políticas públicas e serviços básicos, como saúde e assistência social.
O que é o Centro Pop?
O Centro de Referência Especializado para Pessoa em Situação de Rua “Centro Pop Dom Moacyr Grechi” faz o acompanhamento da população que vive em situação de rua em Porto Velho. Desde o atendimento físico, até o trabalho em campo, diretamente onde se concentra essa população.
O objetivo é garantir os direitos desses através dos serviços socioassistenciais. O apoio vai desde alimentação, local para tomar banho e lavar roupas e ter um momento de lazer, até atendimento psicológico e acompanhamento de problemas relacionados a documentação e benefícios financeiros.
Fonte: G1-Rondônia
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