Janja Garnbret tem chamado atenção para o número de transtornos alimentares no esporte
Porto Velho, RO - Medalhista de ouro olímpica e oito vezes campeã mundial, Janja Garnbret conhece o mundo da escalada competitiva como ninguém.
Tendo chegado ao topo do esporte, a eslovena quer agora usar a sua plataforma para aumentar a consciencialização sobre as armadilhas “culturais” da escalada que, segundo ela, estão contribuindo para um problema generalizado de transtornos alimentares.
O problema decorre, diz Garnbret, de uma ideologia ultrapassada de que pesar menos significa subir mais rápido. Essa mentalidade criou um ambiente onde os jovens atletas começam a pular ou a reduzir as refeições, por vezes com efeitos desastrosos.
Apesar de não ter problemas com transtornos alimentares, ela está mais do que ciente de amigos e colegas competidores que danificaram seus corpos na busca por ter um corpo mais leve.
“Isso é uma coisa cultural na escalada, está integrado em nossos cérebros que quanto mais leve você é, mais forte você é”, disse Garnbret à CNN, reconhecendo que o peso desempenha um papel no esporte.
“Claro que você não quer pesar muito, mas você não quer pesar muito pouco. Então você tem que buscar algo intermediário. Acredito firmemente que você pode praticar escalada, ou qualquer esporte, de maneira saudável”.
“Tive amigos que caíram nessa armadilha”
Garnbret diz que seus modelos de escalada enquanto cresciam eram todos “super magros”, o que só serviu para reforçar a noção de que era preciso perder peso para competir em nível mundial.
Quando você vê alguém ganhando, você quer ser como essa pessoa. Você quer ter resultados como eles. Você quer se parecer com eles. Eu também queria, mas felizmente não caí nessa armadilha. Tive pessoas ao meu redor para me guiar no caminho certo
“Amigos meus caíram nessa armadilha e tentei ajudá-los de todas as maneiras possíveis. Me esforcei por, digamos, dois anos para ajudá-los a sair dessa situação, mas não pude evitar. Foi muito difícil para mim vê-los se destruindo, mental e fisicamente”.
Foram experiências como essas que levaram Garnbret a postar uma mensagem no Instagram em julho de 2023 sobre transtornos alimentares.“Queremos criar a próxima geração de esqueletos? Cabelo quebradiço, expressões monótonas, tentando mostrar a todos que você está bem, mas está mesmo?”, ela escreveu em uma longa postagem que procurava tocar no assunto que já foi tabu.
A postagem gerou uma grande resposta, repercutindo em toda a comunidade da escalada e atraindo o apoio de pessoas como a alpinista norte-americana Sasha DiGiulian.
Em sua mensagem, Garnbret falou sobre a Deficiência Energética Relativa no Esporte (REDs, na sigla em inglês), uma síndrome que ocorre quando alguém de qualquer gênero treina demais e/ou come pouco por um período prolongado na tentativa de melhorar seu desempenho atlético, muitas vezes sem saber dos perigos de não compensar a energia que gastam nos treinos, nas corridas e no dia a dia.
Se não forem tratadas, os especialistas médicos dizem que a síndrome pode danificar o metabolismo de um atleta, a sua saúde óssea — levando a mais fraturas — o sistema imunológico, saúde cardiovascular, ciclo menstrual e a saúde mental, bem como o desempenho atlético.
Garnbret diz que seus modelos de escalada enquanto cresciam eram todos “super magros”, o que só serviu para reforçar a noção de que era preciso perder peso para competir em nível mundial.
Quando você vê alguém ganhando, você quer ser como essa pessoa. Você quer ter resultados como eles. Você quer se parecer com eles. Eu também queria, mas felizmente não caí nessa armadilha. Tive pessoas ao meu redor para me guiar no caminho certo
“Amigos meus caíram nessa armadilha e tentei ajudá-los de todas as maneiras possíveis. Me esforcei por, digamos, dois anos para ajudá-los a sair dessa situação, mas não pude evitar. Foi muito difícil para mim vê-los se destruindo, mental e fisicamente”.
Foram experiências como essas que levaram Garnbret a postar uma mensagem no Instagram em julho de 2023 sobre transtornos alimentares.“Queremos criar a próxima geração de esqueletos? Cabelo quebradiço, expressões monótonas, tentando mostrar a todos que você está bem, mas está mesmo?”, ela escreveu em uma longa postagem que procurava tocar no assunto que já foi tabu.
A postagem gerou uma grande resposta, repercutindo em toda a comunidade da escalada e atraindo o apoio de pessoas como a alpinista norte-americana Sasha DiGiulian.
Em sua mensagem, Garnbret falou sobre a Deficiência Energética Relativa no Esporte (REDs, na sigla em inglês), uma síndrome que ocorre quando alguém de qualquer gênero treina demais e/ou come pouco por um período prolongado na tentativa de melhorar seu desempenho atlético, muitas vezes sem saber dos perigos de não compensar a energia que gastam nos treinos, nas corridas e no dia a dia.
Se não forem tratadas, os especialistas médicos dizem que a síndrome pode danificar o metabolismo de um atleta, a sua saúde óssea — levando a mais fraturas — o sistema imunológico, saúde cardiovascular, ciclo menstrual e a saúde mental, bem como o desempenho atlético.
Mudando atitudes
A Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC, na sigla em inglês) afirma estar ciente do problema e no início deste ano implementou “regulamentações abrangentes” relacionadas às REDs, estabelecendo uma nova política de eventos para os atletas participantes nessa temporada.
A IFSC afirmou que é a primeira federação internacional a introduzir tais medidas, que incluem um procedimento de triagem que estará totalmente operacional em Paris 2024.
“O novo sistema sublinha o nosso compromisso com a saúde dos nossos atletas”, disse o presidente da IFSC, Marco Scolaris, em nota no início desTe ano. “A política não só nos ajudará a determinar quais atletas estão em maior risco, mas também ajudará a aumentar a conscientização sobre o assunto, fornecer ajuda a quem precisa e garantir que os direitos de cada atleta sejam protegidos”.
A Federação Internacional de Escalada Esportiva (IFSC, na sigla em inglês) afirma estar ciente do problema e no início deste ano implementou “regulamentações abrangentes” relacionadas às REDs, estabelecendo uma nova política de eventos para os atletas participantes nessa temporada.
A IFSC afirmou que é a primeira federação internacional a introduzir tais medidas, que incluem um procedimento de triagem que estará totalmente operacional em Paris 2024.
“O novo sistema sublinha o nosso compromisso com a saúde dos nossos atletas”, disse o presidente da IFSC, Marco Scolaris, em nota no início desTe ano. “A política não só nos ajudará a determinar quais atletas estão em maior risco, mas também ajudará a aumentar a conscientização sobre o assunto, fornecer ajuda a quem precisa e garantir que os direitos de cada atleta sejam protegidos”.
Janja Garnbret (da Eslovênia) ficou com ouro na escalada esportiva combinada nas Olímpiadas de Tóquio 2020/ David Goldman – 6.ago.2021/AP
Garnbret, de 24 anos, sabe que a mudança de atitude levará tempo, mas espera que as coisas melhorem para a nova geração que segue os seus passos.
“Me sinto muito honrada e muito feliz por estar nessa posição porque sempre quero retribuir para a escalada, porque a escalada me deu muito em geral”, diz ela quando questionada sobre como lida com o fato de ser um modelo para as outras pessoas.
“Queria retribuir à comunidade, aos mais novos, porque todo o conhecimento que tenho quero passar aos mais novos. Quero ajudá-los a alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem”.
O ano passado também foi difícil para Garnbret, depois que ela foi forçada a uma ausência prolongada das competições após quebrar o dedão do pé esquerdo. A lesão ocorreu no início da temporada de classificação olímpica e não ficou imediatamente claro por quanto tempo a eslovena precisaria repousar. Garnbret diz que a ausência forçada afetou sua saúde mental.
“A lesão do ano passado foi o momento mais difícil da minha carreira”, reflete ela. “Não foi nada fácil. Foi minha primeira lesão grave […] e eu não sabia muito como lidar com isso no começo. Tive muitas dúvidas, muitos pensamentos negativos. Eu não tinha certeza se algum dia estaria no topo novamente ou se seria capaz de escalar normalmente de novo”.
Embora incapaz de competir totalmente, a lesão não impediu completamente Garnbret de subir na parede de escalada e ela finalmente começou a treinar até certo ponto com uma bota engessada, concentrando seus esforços na força da parte superior do corpo.
Garnbret, de 24 anos, sabe que a mudança de atitude levará tempo, mas espera que as coisas melhorem para a nova geração que segue os seus passos.
“Me sinto muito honrada e muito feliz por estar nessa posição porque sempre quero retribuir para a escalada, porque a escalada me deu muito em geral”, diz ela quando questionada sobre como lida com o fato de ser um modelo para as outras pessoas.
“Queria retribuir à comunidade, aos mais novos, porque todo o conhecimento que tenho quero passar aos mais novos. Quero ajudá-los a alcançar seus objetivos, sejam eles quais forem”.
O ano passado também foi difícil para Garnbret, depois que ela foi forçada a uma ausência prolongada das competições após quebrar o dedão do pé esquerdo. A lesão ocorreu no início da temporada de classificação olímpica e não ficou imediatamente claro por quanto tempo a eslovena precisaria repousar. Garnbret diz que a ausência forçada afetou sua saúde mental.
“A lesão do ano passado foi o momento mais difícil da minha carreira”, reflete ela. “Não foi nada fácil. Foi minha primeira lesão grave […] e eu não sabia muito como lidar com isso no começo. Tive muitas dúvidas, muitos pensamentos negativos. Eu não tinha certeza se algum dia estaria no topo novamente ou se seria capaz de escalar normalmente de novo”.
Embora incapaz de competir totalmente, a lesão não impediu completamente Garnbret de subir na parede de escalada e ela finalmente começou a treinar até certo ponto com uma bota engessada, concentrando seus esforços na força da parte superior do corpo.
Sonhos olímpicos
Garnbret agora dá crédito à experiência de reabilitação da lesão, tornando-a em uma escaladora mais forte.
“Eu só tive que esperar meu dedo do pé melhorar e então eu poderia escalar melhor do que antes”, diz ela. “Aprendi muito sobre mim nesse período, muito sobre treinos, muito sobre como estou lidando com as coisas quando as coisas não saem conforme o planejado. Obtive uma compreensão mais profunda de mim mesma e do treinamento”.
Com uma medalha olímpica no bolso — Garnbret garantiu o ouro combinado em Tóquio 2020 —, a eslovena quer mais.
Ela ainda tem aquele fogo nos olhos e espera poder ser igualmente dominante em Paris depois de já ter se classificado para os Jogos Olímpicos.
Depois de ter uma medalha olímpica, você sempre quer outra. Então estou trabalhando muito. Eu só quero ser a melhor. Acho que é isso que me faz continuar. Quero sempre estar no topo. Sinto que não alcancei todo o meu potencial mental, então ainda posso continuar trabalhando nisso
Garnbret agora dá crédito à experiência de reabilitação da lesão, tornando-a em uma escaladora mais forte.
“Eu só tive que esperar meu dedo do pé melhorar e então eu poderia escalar melhor do que antes”, diz ela. “Aprendi muito sobre mim nesse período, muito sobre treinos, muito sobre como estou lidando com as coisas quando as coisas não saem conforme o planejado. Obtive uma compreensão mais profunda de mim mesma e do treinamento”.
Com uma medalha olímpica no bolso — Garnbret garantiu o ouro combinado em Tóquio 2020 —, a eslovena quer mais.
Ela ainda tem aquele fogo nos olhos e espera poder ser igualmente dominante em Paris depois de já ter se classificado para os Jogos Olímpicos.
Depois de ter uma medalha olímpica, você sempre quer outra. Então estou trabalhando muito. Eu só quero ser a melhor. Acho que é isso que me faz continuar. Quero sempre estar no topo. Sinto que não alcancei todo o meu potencial mental, então ainda posso continuar trabalhando nisso
Fonte: CNN Brasil
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