Presidente argentino conseguiu melhorar as contas públicas e reduzir a inflação, mas a pobreza aumentou e governo fracassou com as reformas no Congresso Nacional

Porto Velho, RO - Javier Milei chegou à Casa Rosada com o discurso da antipolítica. Nesta semana, ele completou 100 dias no cargo. Esse período, normalmente, marca uma fase de lua de mel entre o governo, Congresso e eleitores. A Argentina, porém, não seguiu esse roteiro.

Em pouco mais de três meses de governo, as contas públicas melhoraram e a inflação desacelerou, mas a vida dos argentinos piorou e o governo não conseguiu avançar com a pauta de reformas.

Os 100 dias mostram que nem só de política fiscal se faz um ajuste.

Milei tem um número para se orgulhar em 100 dias de governo: sobrou dinheiro no caixa do governo. Em janeiro, sobraram 518 bilhões de pesos — cerca de US$ 620 milhões — no Tesouro Nacional. Esse foi o primeiro superávit nominal desde 2011 no país vizinho.O feito foi atingido especialmente pela não correção dos gastos públicos. As despesas pagas pelo governo Milei com programas sociais e servidores públicos aumentaram menos que a inflação. Ou seja, houve perda do valor de compra dos argentinos, já que esses gastos foram “cortados” pela inflação.


Isso explica o que acontece nas ruas. Os índices de pobreza pioraram e, segundo o Observatório da Dívida Social da Pontifícia Universidade Católica Argentina, a parcela dos argentinos na faixa da pobreza cresceu de 49,5% no fim do ano passado para 57,4% em 2024.

Há mais pobres porque os preços continuam subindo, e a renda não acompanha.É verdade que a inflação está menor que o visto há poucas semanas. Em dezembro, os preços da economia argentina subiram 25,5%. Em fevereiro, já com Milei, o ritmo de aumento diminuiu para 13,2%.

Críticos dizem que a inflação ainda vai piorar com a retirada de subsídios que tem ocorrido de forma gradual. Enquanto você lê esse texto, argentinos têm recebido contas de eletricidade com valores que chegam a ter aumento de 300%. Esse reajuste ainda chegará aos índices de inflação.

Enquanto essa alta não aparece, a alta dos preços menos intensa vista até agora pode ter razão no câmbio. Após um choque nas cotações oficiais no começo do governo, os preços da moeda parecem ter se estabilizado nas últimas semanas.

A cotação paralela — a mais usada na economia real — permanece ligeiramente acima dos 1.000 pesos por dólar há várias semanas.

A equipe econômica liderada por Luis Caputo comemora e diz que o dólar estável e a inflação menos intensa são resultados do aumento da confiança com o país.

Economistas críticos ao governo Milei, porém, dizem que essa estabilidade do dólar pode ser explicada por um fato quase dramático: argentinos em dificuldade — especialmente da classe média — estariam vendendo quantidades expressivas da moeda estrangeira para pagar contas do cotidiano.

Com maior oferta de dólares, o preço não subiria. Infelizmente, não é possível comprovar essa tese.

Apesar do avanço positivo das contas públicas e da inflação, Milei não conseguiu convencer deputados, senadores e governadores. E, sem apoio, fracassou na política.

O megaprojeto de lei com mudanças drásticas na economia e no funcionamento do Estado — apelidado de “lei ônibus” — foi derrubado pelo Congresso Nacional, onde o presidente argentino não tem maioria. O mega decreto presidencial assinado nos primeiros dias do governo teve o mesmo final e foi rechaçado pelos parlamentares.

O baque no Congresso parece ter atingido o coração do governo libertário nos últimos dias. Há relatos de farpas e tensão entre o presidente Javier Milei e a vice-presidente Victoria Villarruel.

Os 100 dias mostraram ao antipolítico que, sem a política, a vida de um presidente não é nada fácil.

Fonte: CNN Brasil